30 novembro 2005

Fernando Pessoa morreu há 70 anos.


29 novembro 2005

Maus tempos - mas "só lá para o Norte"...

Confesso que já não tenho pachorra para aguentar, nos mais diversos meios de Comunicação Social, a querela em torno do aeroporto na Ota e do TGV Lisboa-Madrid. O país (não, uma parte bastante reduzida do país) parece ter instituído como suas preocupações máximas esses dois grandes esforços para nos aproximarmos mais da verdadeira Europa. E digo "uma parte bastante reduzida do país" porque, com frequência, quando vejo, na TV, os "otistas" e os "antiotistas" esgrimirem os seus argumentos, o caso me parece ser do interesse apenas de uma região a de Lisboa.

Como quero continuar coerente, devo dizer que sempre me fez impressão o aeroporto da Portela, que é, dos muitos que conheço, em vários continentes, o único em que um passageiro sai do avião, se mete num autocarro da Carris e está no centro da cidade. Já quanto ao TGV, torço o nariz - sempre pensei, talvez erradamente, que o caminho-de-ferro é uma espécie em vias de extinção. Mas os governos não desistem das suas obras sumptuárias, que permanecerão na memória de todos, quando todos já se tiverem esquecido dos nomes de quem os constituiu. Assim, os lisboetas terão o seu novo aeroporto e poderão ir de comboio super-rápido até Madrid.
Só que alguém vai de ter de pagar a factura... Ora sucede que, segundo o Instituto Nacional de Estatística, o Norte é agora o campeão do desemprego, indo ao ponto de bater o recorde que, triste e tradicionalmente, pertencia ao Alentejo. Ainda segundo o INE, o Norte está cada vez mais deprimido - o investimento cresceu abaixo da média nacional e as famílias chegaram a 2003 com o nível de vida mais baixo do país.

Porém, como costumam dizer os media audiovisuais, quando se trata de anunciar mau tempo, isso será "só lá para o Norte". Cá pelo Norte, Pedras Rubras é sacrificado à Ota, diz-se, e um TGV Porto-Vigo ficará para as calendas. Felizmente, o resto do país (leia-se Lisboa) não tem razões para se sentir deprimido.

Sérgio de Andrade in JN, 29/11/2005

28 novembro 2005

O «abanão»

"Economista e regionalista convicto. Ele próprio se define como «um resistente do Porto». Foi ministro das Finanças do Governo de Cavaco Silva e avançou com diversas grandes reformas. É militante do PSD, mas considera-se um outsider da política partidária. O que não significa que se demita de uma intervenção cívica.
Hoje, segunda-feira 28, Miguel Cadilhe avança, no Porto, com um conjunto de propostas para uma reforma administrativa e conceitual do Estado. Estas estão compiladas no livro O Sobrepeso do Estado em Portugal, escrito no último ano, que será apresentado pelo empresário Belmiro de Azevedo. De saída da liderança da Agência Portuguesa para o Investimento (API), onde será substituído por Basílio Horta, o ex-ministro das Finanças de Cavaco Silva diz que «a bandeira portuguesa está a sangrar». E o óleo do pintor Manuel Casimiro, que escolheu para capa do livro, significa isso mesmo. E Portugal sangra porquê? Porque tem «Estado a mais». Retira «recursos ao sector privado» e, ainda por cima, «utiliza-os mal», criando «burocracia que prejudica o bom funcionamento da economia». Na primeira grande entrevista em anos, o economista fala do seu PSD, do País, da Economia e das saídas para a crise: «um abanão». E deixa um aviso: «Cavaco Silva é como um eucalipto, que provoca aridez à sua volta»."
Entrevista completa, na Visão OnLine.

Cesaltina Pinto in VISÃO nº 664 25 Nov. 2005

27 novembro 2005

E mais nada...

Presidenciais: Cavaco Silva pede que se pense "duas vezes" antes de votar.
26.11.2005 - 19h49 Lusa

Presidenciais: Cavaco Silva pede que se pense "duas vezes" antes de votar.
26.11.2005 - 19h49 Lusa

2 vezes...

26 novembro 2005

Acordos de Regime: Agentes de Mudança!

Por controverso e surrealista que possa parecer aos demais "fazedores" de opinião, a (grande) verdade é que numa democracia (e/ou regime verdadeiramente democrático e democratizado) um dos factores críticos de desenvolvimento e sucesso são os acordos supra-partidários, ou de regime, que os políticos mais profissionalizados, por esse mundo fora, apadrinham e praticam no âmbito das suas funções, objectivando (na maioria dos casos com excelentes resultados) a concretização dos grandes projectos das suas nações, sem hipotecar os mesmos em função de quaisquer emplastros eleitoralistas.

É assim que podemos perceber o porquê de, em Portugal, não podermos perspectivar com grande certeza e estabilidade qualquer plano de longo prazo, por muito estruturante e vital que o mesmo seja para o País e para as gerações vindouras.

Inexplicavelmente, Governantes, Adjuntos, Deputados e Funcionários desta Bela Máquina Estatal, reduzem as suas estratégias políticas ao flirt cíclico que se gera entre actos eleitorais, denunciando o que de pior existe na vocação imoral que a gestão da coisa pública hoje demonstra!

É absolutamente inimaginável o que um Jovem de 20 anos do próximo século concluirá quando reflectir sobre os actos de gestão da coisa pública que marcarão a história dos primeiros anos do século 21 em Portugal. Sublinhe-se, inimaginável!

Nos dias de hoje, maioritariamente, os Jovens não querem, nem admitem querer, ligar-se ou preocupar-se com a dinâmica política do País. Isto terá várias explicações e, cada uma delas, várias interpretações, bem como, idêntico número de originadores das mesmas.

Podemos começar (e terminar) na melhor de todas: hoje a política não entusiasma os viveiros de alegria, vida e paixão que existem nas camadas mais jovens, sobretudo porque falta a alma e a paixão que sempre dignificaram o carácter nobilíssimo da prática política!

É exactamente por isso que, daqui a 1 século, os Jovens, não maioritária mas unanimemente, retratarão esta fase do século 21 como a melhor fase de farsas políticas e imbróglios humanos!

A Sociedade, como hoje se conhece, não se identificará jamais com artistas da ilusão porque, entretanto, chegará o momento das Pessoas exigirem e afirmarem aquilo que verdadeiramente desejam para si e para os seus: Verdade, Justiça e Liberdade!

Qualquer um destes 3 tesouros, é hoje uma raridade no nosso País! Por isso, e concluindo, acordos de regime que sirvam os interesses das Pessoas (o Povo) serão benvindos, Senhores Governantes e Senhores Apêndices dos Governantes!

25 novembro 2005

Sempre actual!


24 novembro 2005

Há elites no Porto, mas não têm poder...

Cadilhe e Barreto concordam que há elites a norte mas discordam da solução para dar protagonismo à região
Há elites no Porto, mas não têm poder. Em boa parte por culpa própria, segundo António Barreto, sobretudo por falta de poderes regionais instituídos, na óptica de Miguel Cadilhe. Pode ser esta a síntese das intervenções dos dois conferencistas participantes no painel "Onde estão as elites do Grande Porto?", moderado por Artur Santos Silva, que inaugurou o terceiro ciclo de conferências Olhares Cruzados sobre o Porto, organizado pelo PÚBLICO e pela Universidade Católica. Tanto Artur Santos Silva, na apresentação do painel, como António Barreto e Miguel Cadilhe, logo a seguir, defenderam que o problema do Porto, e do Norte, não está na falta de elites. Há muitas e boas, nas empresas, nas artes, nas universidades, no desporto, com alguns afloramentos muito fortes, como é o caso do Museu de Serralves, que, por mérito próprio, se impôs como referência nacional e internacional, constituindo um "excepcional exemplo de vitalidade" capaz de atrair mais gente do que "todos os museus juntos de Lisboa, com excepção do dos Coches", na formulação bem disposta de Barreto.
Porquê, então, esta obsessiva dúvida sobre se há ou não elites no Norte? Para Barreto, "esta obsessão tem razão de ser. Falta um papel a estas elites, falta poder político e representação regional, mas a regionalização não era, nem é, a solução". Foi no modo de afirmar o poder regional que se cavou a diferença entre o sociólogo e o antigo ministro das Finanças. Enquanto Barreto defendeu que a afirmação do Porto e do Norte não deve fazer-se por "outorga" da regionalização pelo poder central, mas antes pela afirmação prática da excelência das suas elites, Cadilhe relembrou e criticou os expedientes de Lisboa para "empatar" a instituição das regiões, lembrando, a propósito, uma afirmação de Cavaco retirada da sua autobiografia política - "Fiz por empatar o processo", confessou o actual candidato à Presidência da República - que deixou Cadilhe fora de si: "Isto não se faz!", comentou. De resto, a "obsessão" regional de Cadilhe levou-o a "subverter" um pouco o tema do painel, como Barreto sublinhou delicadamente."Ninguém foi capaz de dar voz" ao Porto e ao Norte, acusou Barreto. "As universidades não o fazem, as câmaras não se entendem" e preferem "cooperar com o poder central", sustentou o sociólogo, que referiu também o facto de a capital "não cessar de se sentir superior e de troçar da cidade segunda". Seja como for, para Barreto, é o Porto que deve fazer por se impor, a exemplo de congéneres como Barcelona, Edimburgo, São Paulo, Frankfurt e uma multidão de "segundas cidades" norte-americanas."Agustina Bessa-Luís e Siza Vieira são elite, mas não são líderes", sustentou Cadilhe, que defendeu a ideia de que, para haver mais e melhores elites, é necessária "massa crítica". Ora, "quanto maior for a centralização do país, mais enfraquecidas são a massa crítica e os factores exógenos" que favorecem o aparecimento dos melhores, insistiu o economista nortenho, para quem o Norte "não tem grandes líderes políticos". Santos Silva, na qualidade de moderador, confessou-se mais próximo das ideias de Barreto a propósito da descentralização, municiando o argumentário do sociólogo ao referir o seu papel na construção, a partir do Porto, daquele que é hoje um dos maiores bancos nacionais, o BPI.
Do debate ressaltou a necessidade de uma estratégia para a região, falou-se numa televisão regional e referiu-se até o "exemplo" de Las Vegas, erguida do nada, no meio do deserto. "Pois, mas quem a criou foi um gangster", lembrou Cadilhe, visivelmente bem disposto e muito sintonizado com o espírito "regionalista" da plateia.
A próxima conferência realiza-se a 12 de Dezembro sobre o tema "O que resta do espírito empreendedor do Porto?".

Carlos Romero in Público - Quinta, 24 de Novembro de 2005

23 novembro 2005

Quem é Otário?

Há dois pontos prévios para que o debate sobre o novo aeroporto da Ota continue com um mínimo de racionalidade. Primeiro, fica provado que a Portela vai esgotar a capacidade no próximo decénio e isso já simplifica a conversa. Até os críticos concordam que o país precisa ampliar a sua oferta aeroportuária, sob pena de chegar à situação absurda de, um dia, ter de recusar quem o quer visitar.
O segundo é que construir um novo aeroporto para Lisboa não é política económica. O Governo corrige assim a justificação absurda, de estes grandes projectos de investimento público servirem para tirar Portugal da recessão.
Temos então que um novo aeroporto é necessário e que essa necessidade nada tem a ver com conjuntura. Mas sobra muita dúvida, matérias relevantes, que ontem o Governo se disponibilizou finalmente a esclarecer.
Uma delas, a mais crítica, é acerca da viabilidade económica e financeira do projecto. E saber, dentro desta magna questão, que recursos públicos tem o país de mobilizar para amparar o risco que garante transferir para privados.
Este esclarecimento implica que se afastem fantasmas e destruam mistificações. O fantasma frequentemente evocado pelos críticos é que este elefante-branco representa uma ruina para os cofres públicos – logo mais impostos no futuro. A mistificação, ao invés, é que tudo é privado – logo, a nação valente não tem com que se preocupar.
Mas tem. Tem porque, aqui sim, há vida além do défice orçamental. Ou, para ser mais rigoroso, a morte pode estar desorçamentada.
Um dos cenários, praticamente dado como certo, é a privatização da ANA ser feita para financiar o projecto, explicando o Citigroup que assim se evita a utilização de recursos públicos. E o banco Efisa, entre as três principais conclusões, enfatiza que o novo aeroporto não implica qualquer esforço por parte do Orçamento de Estado.
Evidentemente que só pode ser brincadeira. A ANA é uma empresa 100% detida pelo Estado, é um monopólio, beneficia de uma renda natural de um mercado protegido. É, está claro, um recurso público. E se for entregue como parte do negócio é você, caro leitor, quem obviamente está a pagar.
Pode não implicar o recurso a qualquer dotação do OE, como sugere o Efisa. Ok, a viabilidade do projecto, segundo este banco, é parcialmente garantida por uma sobretaxa a cobrar aos passageiros da Portela.
É um contra-senso, uma aberração. O nosso aeroporto já é pouco competitivo e muitas companhias fogem de Lisboa para destinos com custos aeroportuários mais baixos. Pôr a Portela a financiar a Ota é uma emenda que piora o soneto.
Que adianta uma gigantesca infra-estrutura de transporte para dotar de competitividade o território, se o esforço para construi-la significa a morte das companhias que transportam e a repulsa dos turistas a transportar?
Um novo aeroporto não é um fim em si mesmo. O país já entende que ele é necessário e que até se pode viabilizar. Mas só se deixará convencer na certeza de, uma vez construído, o aeroporto tenha turismo para receber e aviação comercial para operar. Não há estudos de impacto sobre isto. Afinal, sobre a razão de a Ota existir.

Sérgio Figueiredo in Jornal de Negócios - 23/11/2005

22 novembro 2005

Parabéns!

2º aniversário de um blog de referência: Causa Nossa.

21 novembro 2005

Novo líder já formou equipa...

PSD/Porto: Pedro Duarte vai contar com Paulo Cutileiro, Paulo Rangel e Faria e Ameida

Pedro Duarte promete grande concertação entre o partido e os autarcas e é, nessa lógica, que anuncia a nova equipa e a estrutura da Concelhia do PSD/Porto, que agora lidera. Paulo Cutileiro, vereador de Rui Rio até às últimas eleições, os históricos Faria e Almeida e Miguel Veiga, Paulo Rangel e Valente de Oliveira são algumas das apostas do novo líder.
Como era esperado, Pedro Duarte foi eleito, sábado passado, em lista única. O vice-presidente da bancada parlamentar do PSD, recorde-se, avançou com o incentivo de Rui Rio após Francisco Ramos ter cumprido a intenção de se afastar. Votaram 239 militantes, de um universo superior a dois mil e registaram-se cinco votos em branco e cinco nulos.
Pedro Duarte renovou toda a equipa da Comissão Política por se iniciar "um novo ciclo", agora que Rio foi reeleito. Paulo Rios, membro da Assembleia Municipal, e Pedro Justo, líder do núcleo do Bonfim do PSD, são os vice-presidentes.

Dois novos órgãos

São criados dois novos órgãos de apoio. O gabinete autárquico fará o acompanhamento do trabalho da Câmara e Assembleia municipais e das freguesias, ou "da gestão do dia-a-dia", resume Pedro Duarte, que, enquanto candidato, garantiu que este mandato seria de grande concertação com os autarcas, servindo o PSD não apenas de suporte mas também de estímulo e motor para as decisões. O gabinete será liderado por António Maria, membro da Assembleia Municipal, número dois da Junta de Bonfim e da anterior Concelhia.
Outra novidade é o gabinete de estudos coordenado pelo deputado social-democrata Paulo Rangel, com o apoio de Paulo Cutileiro. Para o Conselho Consultivo, que já existia, chamou Faria e Almeida, secretário de Estado de Leonor Beleza, que ponderou candidatar-se mas acabou por apoiar Pedro Duarte. Valente de Oliveira, Miguel Veiga e José Pedro Aguiar Branco são outros membros deste conselho.
A pouca afluência nas eleições foi, entretanto, desvalorizada pelo novo líder por se tratar de lista única e porque, há dois anos, com dois candidatos, os votos não chegaram a 600. "Excedeu as expectativas", garante, reafirmando, como objectivos, a afirmação cívica do Porto e a luta contra "atitudes centralistas", desde logo a "tentativa de governamentalização" da gestão do Metro.

Carla Soares in Jornal de Notícias - 21/11/2005

20 novembro 2005

Prà Roménia e em força...

Há quem pense que, para as empresas portuguesas se tornarem mais fortes e para ganharem valor, não há alternativas ao crescimento por aquisições no exterior. E o exemplo de Espanha surge como um clássico. O poder político que projecta, ostensivamente, os grupos económicos nacionais para outros destinos.
As organizações sindicais sintonizadas com esse desiderato, sem a ladaínha da deslocalização. E os media, que torcem pela OPA da Telefónica a uma operadora britânica, como por cá só fazemos nos jogos da selecção nacional de futebol.
As duas coisas estão certas. A estratégia e o caso espanhol como exemplo. Só que, pelo caminho, aparecem uns distraídos que dão ao primeiro-ministro a responsabilidade e a iniciativa.
É o primeiro-ministro que deve fretar um avião, é ele que deve lotá-lo de ilustres empresários e gestores públicos. E, todos juntos, viajarem rumo ao Brasil. Ou a Angola. Ou à Conchichina.
É um equívoco pensar que os espanhóis internacionalizam os seus grupos económicos pelas excursões oficiais que são promovidas a partir de Moncloa.
Evidentemente que a Espanha anda há vinte anos a colocar a política externa do seu Estado no apoio daqueles que procuram escala e negócio noutro país. A Espanha, como os EUA, ou a Inglaterra, ou a França, ou qualquer outro Estado com uma diplomacia ao serviço das empresas.
A comitiva oficial deve ser a coisa menos importante que muitos dos vencedores da globalização evocam na sua agressiva expansão nos mercados externos.
Em Portugal, estamos a assistir a dois movimentos, muito relevantes, com protagonistas distintos, porém exemplares na conquista de dimensão e valor. Por impulso empresarial, não por inspiração ministerial. A TAP com a Varig. O Millennium bcp com o romeno BCR.
Luísa Bessa já explicou aqui a oportunidade única que este avanço sobre a gigante brasileira representa para a companhia aérea portuguesa. A operação romena não é menos estratégica para o maior banco privado português.
A rentabilidade do BCP já é muito condicionada pela sua actividade internacional - a Polónia e a Grécia representam 10% dos lucros consolidados. A actividade também cresce a outro ritmo lá fora - cerca de 15% ao ano, contra 4% em Portugal.
Está construída uma unanimidade sobre a importância que estes bancos, sobretudo o polaco, representa para o futuro próximo do BCP. Mesmo que Teixeira Pinto reproduza lá a história de sucesso de Jardim Gonçalves em Portugal, será um jogador de segunda divisão.
O BCP tinha, em 1995, apenas 8% do mercado nacional. Tornou-se o que é hoje, a partir das aquisições, sobretudo o BPA. Não há Estado, não há Governo, não há ministro capaz de antecipar um movimento de ousadia, como é este que o BCP tenta na Roménia.
Por isso é que, só a posteriori, devem os apoios surgir. Da política. Da imprensa. Dos sindicatos. Querem seguir o exemplo espanhol? Então é assim. O nosso modesto contributo é deixar o elogio ao JP Morgan, a primeira casa de investimento a perceber a importância estratégica da operação Roménia. Todos os outros só olham para a cotação. A de amanhã.

Sérgio Figueiredo in Jornal de Negócios - 15/11/2005

19 novembro 2005

"Precisa-se de Matéria Prima para construir um País"

A crença geral anterior era que Collor não servia, bem como Itamar e Fernando Henrique. Agora dizemos que Lula não serve. E o que vier depois de Lula também não servirá para nada. Por isso estou começando a suspeitar que o problema não está no ladrão corrupto que foi Collor, ou na farsa que é o Lula. O problema está em nós. Nós como POVO. Nós como matéria prima de um país. Porque pertenço a um país onde a ESPERTEZA" é a moeda que sempre é valorizada, tanto ou mais do que o dólar. Um país onde ficar rico da noite para o dia é uma virtude mais apreciada do que formar uma família, baseada em valores e respeito aos demais. Pertenço a um país onde, lamentavelmente, os jornais jamais poderão ser vendidos como em outros países, isto é, pondo u mas caixas nas calçadas onde se paga por um só jornal E SE TIRA UM SÓ JORNAL, DEIXANDO OS DEMAIS ONDE ESTÃO.
Pertenço ao país onde as "EMPRESAS PRIVADAS" são papelarias particulares de seus empregados desonestos, que levam para casa, como se fosse correto, folhas de papel, lápis, canetas, clipes e tudo o que possa ser útil para o trabalho dos filhos ...e para eles mesmos. Pertenço a um país onde a gente se sente o máximo porque conseguiu "puxar" a tevê a cabo do vizinho, onde a gente frauda a declaração de imposto de renda para não pagar ou pagar menos impostos. Pertenço a um país onde a impontualidade é um hábito. Onde os diretores das empresas não valorizam o capital humano. Onde há pouco interesse pela ecologia, onde as pessoas atiram lixo nas ruas e depois reclamam do governo por não limpar os esgotos. Onde pessoas fazem "gatos" para roubar luz e água e nos queixamos de como esses serviços estão caros. Onde não existe a cultura pela leitura (exemplo maior nosso atual Presidente, que recentemente falou que é "muito chato ter que ler") e não há consciência nem memória política, histórica nem econômica. Onde nossos congressistas trabalham dois dias por semana para aprovar projetos e leis que só servem para afundar ao que não tem, encher o saco ao que tem pouco e beneficiar só a alguns.
Pertenço a um país onde as carteiras de motorista e os certificados médicos podem ser "comprados", sem fazer nenhum exame. Um país onde uma pessoa de idade avançada, ou uma mulher com uma criança nos braços, ou um inválido, fica em pé no ônibus, enquanto a pessoa que está sentada finge que dorme para não dar o lugar. Um país no qual a prioridade de passagem é para o carro e não para o pedestre. Um país onde fazemos um monte de coisa errada, mas nos esbaldamos em criticar nossos governantes. Quanto mais analiso os defeitos do Fernando Henrique e do Lula, melhor me sinto como pessoa, apesar de que ainda ontem "molhei" a mão de um guarda de trânsito para não ser multado. Quanto mais digo o quanto o Dirceu é culpado, melhor sou eu como brasileiro , apesar de ainda hoje de manhã passei para trás um cliente através de uma fraude, o que me ajudou a pagar algumas dívidas. Não. Não. Não. Já basta.
Como "Matéria Prima" de um país, temos muitas coisas boas, mas nos falta muito para sermos os homens e mulheres que nosso país precisa. Esses defeitos, essa "ESPERTEZA BRASILEIRA" congênita, essa desonestidade em pequena escala, que depois cresce e evolui até converter-se em casos de escândalo, essa falta de qualidade humana, mais do que Collor, Itamar, Fernando Henrique ou Lula, é que é real e honestamente ruim, porque todos eles são brasileiros como nós, ELEITOS POR NÓS. Nascidos aqui, não em outra parte... Me entristeço. Porque, ainda que Lula renunciasse hoje mesmo, o próximo presidente que o suceder terá que continuar trabalhando com a mesma matéria prima defeituosa que, como povo, somos nós mesmos. E não poderá fazer nada... Não tenho nenhuma garantia de que alguém o possa fazer melhor, mas enquanto alguém não sinalizar um caminho destinado a erradicar primeiro os vícios que temos como povo, ninguém servirá. Nem serviu Collor, nem serviu Itamar, não serviu Fernando Henrique, e nem serve Lula, nem servirá o que vier. Qual é a alternativa? Precisamos de mais um ditador, para que nos faça cumprir a lei com a força e por meio do terror? Aqui faz falta outra coisa. E enquanto essa "outra coisa" não comece a surgir de baixo para cima, ou de cima para baixo, ou do centro para os lados, ou como queiram, seguiremos igualmente condenados, igualmente estancados....igualmente sacaneados!!! É muito gostoso ser brasileiro. Mas quando essa brasilinidade autóctone começa a ser um empecilho às nossas possibilidades de desenvolvimento como Nação, aí a coisa muda... Não esperemos acender uma vela a todos os Santos, a ver se nos mandam um Messias.
Nós temos que mudar, um novo governador com os mesmos brasileiros não poderá fazer nada. Está muito claro...... Somos nós os que temos que mudar. Sim, creio que isto encaixa muito bem em tudo o que anda nos acontecendo: desculpamos a mediocridade mediante programas de televisão nefastos e francamente tolerantes com o fracasso. É a indústria da desculpa e da estupidez. Agora, depois desta mensagem, francamente decidi procurar o responsável, não para castiga-lo, senão para exigir-lhe (sim, exigir-lhe) que melhore seu comportamento e que não se faça de surdo, de desentendido. Sim, decidi procurar o responsável e ESTOU SEGURO QUE O ENCONTRAREI QUANDO ME OLHAR NO ESPELHO. AÍ ESTÁ. NÃO PRECISO PROCURA-LO EM OUTRO LADO. E você, o que pensa?.... MEDITE!!!!!

JOÃO UBALDO RIBEIRO

This page is powered by Blogger. Isn't yours?