21 janeiro 2004

Geração de Ouro? À esquerda? À direita?

O espaço político português é hoje consequência de 30 anos de democracia pouco desenvolvida. Os partidos ditos de direita ou esquerda nasceram com base numa fixação ideológica perfeitamente desenquadrada e desadequada da realidade actual. Ser comunista ou fascista eram classificações frequentemente usadas no pós 25 de Abril de 1974. Ainda hoje, para aqueles que acreditam que o muro não caiu, estas expressões são utilizadas com o mesmo intuito – radicalizar posições, infernizar debates, descredibilizar pensamentos, condicionar mudanças… E isto, parte tanto de “gente dita de direita” como de “gente dita de esquerda”!
Portugal hoje tenta apenas e só perceber como é que será possível evoluir com ganhos sociais, económicos, culturais e políticos, atentando simultaneamente às grandes restrições orçamentais, independentemente de termos comunistas ou fascistas no Governo da Nação.
Em teoria, qualquer via social democrata, ou socialista democrática, objectiva precisamente o mesmo que o atrás citado quanto às preocupações actuais. O povo português tem, talvez por isso, mantido uma fidelidade permanente à linha do bloco central que vem ocupando o poder nas últimas 3 décadas.
Na verdade, ser social democrata (ou socialista democrático) não é estar à direita ou à esquerda no espaço ou no pensamento político, isto para o comum dos mortais. Por isso mesmo, PSD e PS têm sido os partidos que, nos últimos 30 anos, conseguem estar em permanência nos sucessivos governos da República de Portugal. Isto só acontece porque os Portugueses se identificam com uma cultura mais estruturante do que situacional e confiam no bloco central para atingir os muito ambicionados desígnios nacionais. Se confiam com motivos para confiar, isso já é outra conversa. A verdade é que confiam. Pelo menos pelos resultados que tem atingido.
No entanto, é cada vez mais permente e visível a necessidade de reflectirmos sobre o nosso futuro colectivo. Muitas e grandes questões são hoje perfeitamente unânimes e urgentes para o debate civilizacional que Portugal carece e tem que fazer! Questões para as quais se tem que encontrar solução: a sobrevivência da segurança social, o(s) sistema(s) educativo(s), o “aparelho” fiscal, a “máquina” da justiça, o “elefante branco” da saúde e o aproveitamento dos recursos nacionais, serão desígnios nacionais dos quais irão depender os sucessos futuros de Portugal.
É nesta lógica de focalizarmos o essencial para o nosso futuro colectivo que surge a grande questão: Interessa distinguir entre direita e esquerda para concretizarmos políticas conducentes a estes objectivos? Será este um desafio da direita ou da esquerda?
Pela lógica da evolução educativa em Portugal, dir-se-ia que o grande desafio está nas mãos daqueles que estão melhor preparados para o enfrentarem. Quer queiramos, quer não, é a geração mais modernizada e jovem que apresenta maiores níveis de alfabetismo, formação superior e/ou especializada, o que faz desta uma geração de responsáveis pelo futuro nacional. Caberá a cada um destes fazer prova de que “os jovens são o futuro do amanhã” e de que Vicente Jorge Silva se equivocou redondamente (o que até nem sempre acontece com este jornalista) quando os apelidou, há 10 anos atrás, no seu editorial de “O Público”, de “geração rasca”. A lógica desta nova geração deverá ser uma outra totalmente distinta: por muita gente à rasca…
A luta entre a (dita) direita e a (dita) esquerda, poderá e deverá dar lugar a uma verdadeira luta de gerações, mentalidades, culturas, ambições, visões e paixões, onde abraçar e alimentar pactos de regime (sem receios eleitoralistas) será finalmente possível e elogiável! Disso tenho hoje a certeza! Mais que não seja porque até agora o sistema falhou! E, com ele, muitos e muitos letrados da política! É exactamente nesta tão simples mas grande revolução de formas e substâncias políticas que estará o verdadeiro caminho de mudança para Portugal!
O aproveitamento das sinergias geradas pelas experiências vividas por diferentes gerações, é, com toda a certeza, mais útil na identificação de soluções colectivas, quando comparado com as que provêm da multidão de deputados que discutem sobre a esquerda e sobre a direita na Assembleia da República! E ainda para mais são mal pagos para o que deveriam estar a fazer...

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