04 fevereiro 2005

Onde está Wally?

Alguma classe política deixou de acreditar na memória. É devota da televisão. Acredita no que lá vê. Funciona em termos dela. Pensa que tudo se resolve com efeitos especiais.
E que isso elimina os defeitos normais de cada um.
O debate entre Santana e Sócrates na televisão tornou-se o gigantesco umbigo dos políticos. Todos olham para o célebre duelo televisivo como a chegada ao Céu ou ao Inferno de cada um deles.
É certo que a política respira, cada vez mais, em função da televisão. Reage não em função do que os outros pensam, mas do que dizem no pequeno ecrã. Na televisão o presente é eterno. E é nisso que dois políticos que cresceram e se afirmaram com as câmaras por perto acreditam. Supõem que é nesse oásis visual que está a fronteira entre a vitória e a derrota. Parece que o país esteve refém de um debate televisivo. Não esteve, nem está.
A questão de Portugal não é «onde está Wally?», mas sim para onde desliza este país. E essa dúvida nunca se tirará num duelo visual entre um piloto de um Spitfire e um Kamikaze de um «Zero». Mesmo que estivessem todos a posar para a televisão, como actores de uma telenovela que se poderia chamar «a sesta das celebridades».

Fernando Sobral in Jornal de Negócios - 04/02/2005

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