20 novembro 2005

Prà Roménia e em força...

Há quem pense que, para as empresas portuguesas se tornarem mais fortes e para ganharem valor, não há alternativas ao crescimento por aquisições no exterior. E o exemplo de Espanha surge como um clássico. O poder político que projecta, ostensivamente, os grupos económicos nacionais para outros destinos.
As organizações sindicais sintonizadas com esse desiderato, sem a ladaínha da deslocalização. E os media, que torcem pela OPA da Telefónica a uma operadora britânica, como por cá só fazemos nos jogos da selecção nacional de futebol.
As duas coisas estão certas. A estratégia e o caso espanhol como exemplo. Só que, pelo caminho, aparecem uns distraídos que dão ao primeiro-ministro a responsabilidade e a iniciativa.
É o primeiro-ministro que deve fretar um avião, é ele que deve lotá-lo de ilustres empresários e gestores públicos. E, todos juntos, viajarem rumo ao Brasil. Ou a Angola. Ou à Conchichina.
É um equívoco pensar que os espanhóis internacionalizam os seus grupos económicos pelas excursões oficiais que são promovidas a partir de Moncloa.
Evidentemente que a Espanha anda há vinte anos a colocar a política externa do seu Estado no apoio daqueles que procuram escala e negócio noutro país. A Espanha, como os EUA, ou a Inglaterra, ou a França, ou qualquer outro Estado com uma diplomacia ao serviço das empresas.
A comitiva oficial deve ser a coisa menos importante que muitos dos vencedores da globalização evocam na sua agressiva expansão nos mercados externos.
Em Portugal, estamos a assistir a dois movimentos, muito relevantes, com protagonistas distintos, porém exemplares na conquista de dimensão e valor. Por impulso empresarial, não por inspiração ministerial. A TAP com a Varig. O Millennium bcp com o romeno BCR.
Luísa Bessa já explicou aqui a oportunidade única que este avanço sobre a gigante brasileira representa para a companhia aérea portuguesa. A operação romena não é menos estratégica para o maior banco privado português.
A rentabilidade do BCP já é muito condicionada pela sua actividade internacional - a Polónia e a Grécia representam 10% dos lucros consolidados. A actividade também cresce a outro ritmo lá fora - cerca de 15% ao ano, contra 4% em Portugal.
Está construída uma unanimidade sobre a importância que estes bancos, sobretudo o polaco, representa para o futuro próximo do BCP. Mesmo que Teixeira Pinto reproduza lá a história de sucesso de Jardim Gonçalves em Portugal, será um jogador de segunda divisão.
O BCP tinha, em 1995, apenas 8% do mercado nacional. Tornou-se o que é hoje, a partir das aquisições, sobretudo o BPA. Não há Estado, não há Governo, não há ministro capaz de antecipar um movimento de ousadia, como é este que o BCP tenta na Roménia.
Por isso é que, só a posteriori, devem os apoios surgir. Da política. Da imprensa. Dos sindicatos. Querem seguir o exemplo espanhol? Então é assim. O nosso modesto contributo é deixar o elogio ao JP Morgan, a primeira casa de investimento a perceber a importância estratégica da operação Roménia. Todos os outros só olham para a cotação. A de amanhã.

Sérgio Figueiredo in Jornal de Negócios - 15/11/2005

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