05 novembro 2004

Líderes vs funcionários...

Os funcionários no exercício da liderança têm um conjunto de características e comportamentos comuns: afastam os líderes existentes na organização, promovem o seguidismo e a mediocridade (à sua imagem e semelhança), vivem o síndrome da conspiração permanente, são desconfiados e vingativos, tentam defender a sua posição (que têm a consciência clara de não merecer) por todos os métodos, atropelando a ética, a moral e a competência técnica se necessário.
Os líderes fazem a diferença. Os funcionários asseguram a rotina.

Os líderes são visionários, constroem uma visão. Os funcionários cumprem instruções, executam os programas.

Os líderes são inovadores, aceitam o risco. Os funcionários são certinhos, burocratas e avessos ao risco.

Os líderes marcam o rumo. Os funcionários seguem o caminho traçado.

Uma organização sem um líder, ou mais exactamente, dirigida por um funcionário, esmorece, definha e acaba por desaparecer.

Sistemas organizacionais mais complexos, como sejam agrupamentos sectoriais e regionais, com ausência de liderança podem não desaparecer, mas entram numa situação de desânimo e falta de confiança que conduz à sua estagnação e empobrecimento.

Não há nada mais nefasto para uma organização do que um funcionário na sua liderança.

Os funcionários no exercício da liderança têm um conjunto de características e comportamentos comuns: afastam os líderes existentes na organização, promovem o seguidismo e a mediocridade (à sua imagem e semelhança), vivem o síndrome da conspiração permanente, são desconfiados e vingativos, tentam defender a sua posição (que têm a consciência clara de não merecer) por todos os métodos, atropelando a ética, a moral e a competência técnica se necessário.

Os casos mais perversos ocorrem quando por um acaso do destino, um funcionário substitui um líder que deixou a liderança da organização por um motivo fortuito.

Neste caso, para além das características e comportamentos comuns atrás referidos, o funcionário com funções de liderança vive com a assombração do líder que substituiu, assume como prioridade máxima sobressair à custa de denegrir a imagem do seu antecessor, procura incessantemente deixar a «sua marca» fazendo diferente (e obviamente pior) do que o seu antecessor, rodeia-se dos colaboradores mais intriguistas e medíocres que alimentam a sua insegurança afirmando-lhe (com um oportunismo e falsidade que só o funcionário não consegue ver) como é óptimo, capaz e infinitamente superior ao seu antecessor.

Os resultados desta postura são óbvios:

A degradação da organização como um todo, o atropelo à ética e à correcção de procedimentos, a caça às bruxas, a exponenciação do que a natureza humana tem de pior.

A multiplicação destes exemplos por todo o país, produz um efeito acumulado negativo com implicações directas na motivação e entusiasmo colectivo, aspecto especialmente grave em períodos de mudança necessários como o que ocorre no momento presente.

Infelizmente, o nosso país tem um déficit de líderes e um excesso de funcionários a dirigirem os mais diversos tipos de organizações.

E o ambiente que se vive não é propício à alteração desta situação.

A penalização do risco e da inovação, a perseguição implacável a quem toma decisões difíceis (como a alteração do modelo de negócio e de gestão das grandes organizações) o fortalecimento dos grupos e organizações contra a mudança (que têm impedido, por exemplo, modelos racionais e eficientes de organização regional e sectorial) a mistura entre vida pessoal e profissional dos dirigentes, a constelação de mediocridade e seguidismo que se tem instalado em várias organizações, não favorecem o aparecimento de líderes jovens, inovadores, entusiastas, inconformados, e com uma visão internacional que possam recolocar o nosso país no lugar que teria se os funcionários não tivessem tomado conta dele.

No próximo ano teremos eleições autárquicas no nosso país.

As autarquias, pela sua proximidade aos cidadãos, pela necessidade de resolverem, em prazo útil, problemas concretos das pessoas, pela sua intervenção global numa região territorial definida, são organizações onde a distinção entre serem dirigidas por um líder ou por um funcionário é profundamente marcante.

A escolha de candidatos autárquicos que sejam verdadeiros líderes poderia ser o início da alteração da situação actual do nosso país. Que evoluiria posteriormente, para as empresas, as direcções-gerais e as organizações sectoriais.

Se esta mancha de liderança se começar a espalhar, o país acabará por acolher uma cúpula de líderes sectoriais e regionais que provocarão a mudança do nosso actual paradigma.

O próximo congresso do meu partido pode, assim, constituir-se, como uma nova oportunidade para a construção dum novo país.

Dir-me-ão que este desejo é de um optimista militante, sonhador e visionário.

Mas sem sonho, a vida é profundamente desinteressante.

Luís Todo Bom in Jornal de Negócios - 05/11/2004

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