23 junho 2005

Mais uma noite São Joanina...


15 junho 2005

Milhares na despedida a Álvaro Cunhal...

Milhares de pessoas acompanharam hoje o funeral da figura mais emblemática do PCP. Na última homenagem a Álvaro Cunhal não houve discursos de circunstância por sua vontade expressa. O silêncio dos líderes deu lugar à voz dos populares, aos cravos e à emoção. No momento da despedida cantou-se a Internacional e o hino nacional, depois de uma longa tarde de luto.
Faltavam ainda três horas para que fumo negro, depois branco, saísse da chaminé do crematório do cemitério do Alto de João, sinalizando o cumprimento da última etapa da despedida do líder histórico comunista, mas a Praça do Chile já estava cheia de militantes e de bandeiras.
“Sente-se um peso enorme. A morte dele é como se fosse de um familiar chegado. Não há palavras para explicar mais do que isto”, confessa Joaquim António, 62 anos, de cravo vermelho ao peito. Veio da Amadora para a última caminhada ao lado do seu líder e é uma das muitas pessoas que engrossa a corrente humana que vai invadindo lentamente a Rua Morais Soares, à medida que a polícia fecha a via ao trânsito.
Mais acima, entre a Praça do Chile e a Praça Paiva Couceiro, Maria José, de 72 anos, e Maria Cândida, um ano mais nova, estão sentadas numa paragem de autocarros, que já não circulam por ali. A primeira afirma que Álvaro Cunhal representa “tudo” para si, para depois, com a voz embargada, confessar: “Vamos ter muitas saudades dele”. Ao seu lado, Maria Cândida revela outras motivações para a maratona: “Vou a todos os funerais que posso”, embora manifestando ter especial admiração pelo antigo líder comunista.
Sobe-se um pouco mais a rua e, já quase na Praça Paiva Couceiro, três caras sobressaem pela juventude. Ana Mirra, de 30 anos, Alexandra Almeida, 24, e Nuno Jerónimo, 28, apresentam-se como militantes do PCP. Estão ali para homenagear o antigo líder que, afirmam, representa a vitalidade dos seus ideais. “Está mais vivo do que as pessoas pensam”, afirma com segurança Ana, reforçada pela colega, que aponta em redor: “Nem para as manifestações aparece tanta gente”.

“A vida tem um fim mas a luta é eterna”

Por volta das 15h30, a zona que envolve o crematório do cemitério do Alto de S. João já está apinhada de gente, enquanto a polícia municipal e jovens da JCP zelam por um corredor central por onde passará o corpo de Álvaro Cunhal. Ao fundo um cartaz enorme, escrito em maiúsculas vermelhas: “A vida tem um fim mas a luta é eterna”.
“Morreu o nosso camarada, mas nós ficamos cá e a luta continua”, explica Rosa Pias, 55 anos. Veio do Seixal para prestar a última homenagem e enquanto segura num dos lados da nota de despedida revela: “Sinto muita tristeza. É um homem que fica na história para toda a vida”.
A espera prolongou-se por mais duas horas e meia, mas o silêncio deu lugar à agitação e às palmas no momento em que o carro funerário chegou. “Assim se vê a força do PC”, "Álvaro amigo, o povo está contigo”, ou simplesmente “PCP, PCP”, foram as palavras de ordem mais ouvidas, enquanto a multidão se adensava. Nem no cimo dos jazigos próximos havia espaço para mais gente.
Cerca das 18h00 saiu o caixão e a Internacional explodiu nos altifalantes, acompanhada pelas vozes da multidão, de braço em riste e punho cerrado, que depois cantou também "A Portuguesa".
Estava próximo o final da cerimónia e, no pátio do edifício, algumas das figuras históricas do partido, antigos e actuais dirigentes receberam o corpo. Minutos depois da última despedida, o fumo negro e depois branco dissolveu-se no céu.

André Kosters/Lusa

This page is powered by Blogger. Isn't yours?