22 fevereiro 2006

Marques Mendes e a Regionalização

Há uns dias, Marques Mendes recusou trazer de novo para a discussão pública a questão da Regionalização, que o PSD/Porto lhe tinha exortado a trazer. Justificou dizendo que não se queria desviar da atenção que pretende dar aos problemas mais urgentes dos portugueses. Esses problemas prioritários seriam o crescimento económico, a competitividade, o combate ao desemprego e as condições para que Portugal cresça. E acrescentou que «todas as pessoas são livres de dar opiniões, mas eu, como responsável político, tenho de dar orientações. As pessoas neste momento não estão preocupadas com as regiões mas com o desemprego».

Estes argumentos são preocupantes. Preferia que Marques Mendes dissesse que é contra a Regionalização e por isso contra a reintrodução da sua discussão na sociedade portuguesa. Pelo menos seria uma posição politicamente defensável. Mas os argumentos que adiantou são muito negativos. Constituem ou um absurdo ou um erro, uma irresponsabilidade e um perigo.

O PSD, como maior partido da oposição e como partido de alternativa de poder, não pode resumir-se a dois ou três temas. Os temas do PSD têm de ser os temas de Portugal, independentemente do número. Ou será que agora o PSD vai deixar de ter posições sobre a Saúde, a Educação, a Administração Interna, a Política Externa ou a Defesa, por estas não terem directamente a ver com «o crescimento económico, a competitividade, o combate ao desemprego e as condições para que Portugal cresça»?! É um absurdo. E é tão absurdo que o Presidente do PSD não segue as suas próprias palavras. De facto, recentemente começou a dedicar certas semanas a temas específicos: já realizou a Semana da Justiça e a Semana do Turismo, nas quais se reuniu com responsáveis e visitou instituições do sector. E já estão previstas semanas dedicadas a outros temas. Se assim não fosse, seria um absurdo.

Tanto que alguns dirão logo: «Não, não é que o PSD deixe de ter posição sobre outros temas. Obviamente que tem. A questão é que na sociedade mediática de hoje um partido deve centrar-se em dois ou três temas, para mais facilmente passar a mensagem». Aqui deixa de ser um absurdo e passa a ser um erro, uma irresponsabilidade e um perigo.

É um erro porque corre-se o risco de deixar à margem pessoas que consideram importante debater outros temas para além desses dois ou três e não vêem o PSD a responder afirmativamente a essas suas expectativas.

É uma irresponsabilidade porque estamos a falar de Portugal. A estratégia do PSD não pode ser apenas uma estratégia de oposição pela oposição, mas uma estratégia de oposição pela alternativa de poder. Outros limitam-se a duas ou três bandeiras mediáticas porque não têm a expectativa de formar uma maioria e, portanto, apostam em supostos nichos de eleitorado. Não é assim o PSD. Ser assim é uma irresponsabilidade.

É um perigo porque é uma cedência à política-espectáculo que a sociedade mediática hoje reclama, mas que o sentido de Estado de um partido como o PSD deve rejeitar. Ouvimos constantemente políticos e analistas a lamentarem a limitação mediática do debate político. Ouvimo-los constantemente a lamentarem a redução da política ao sound-byte. Ouvimo-los constantemente a rejeitarem os populismos mediáticos. Pois bem: aqui está em causa uma via de combate a esses fenómenos. Pretender que o PSD se limite a dois ou três temas para cumprir as “regras” do mediatismo político é um perigo. Claro que não se pode ser ingénuo ao ponto de achar que o PSD ou qualquer outro partido pode ignorar a sociedade mediática em que vivemos. Mas também não se pode aceitar que o PSD se limite a essas “regras” do mediatismo político! Uma tal cedência à política-espectáculo é um perigo.

Resumindo, o PSD devia falar a todos os portugueses; falar das várias matérias de interesse nacional, independentemente do seu número; falar tendo em atenção a realidade mediática, mas sem se limitar a ela sempre que o interesse nacional assim o exija.

Portanto, os argumentos de Marques Mendes não convencem. Mas ainda que convencessem, o tema da Regionalização deveria na mesma ser trazido para a ordem do dia. É que a defesa da Regionalização não se justifica por bairrismo, por capricho ou por moda. A defesa da Regionalização justifica-se pelo interesse nacional, pelo crescimento económico, pelo emprego.

A Regionalização é de interesse nacional porque permitirá dinamizar a Res Publica ao nível regional e assim corrigir as assimetrias regionais. Já há uns dias referi os custos de oportunidade de ainda não termos um país regionalizado. Não vou repetir. Apenas digo que por isso acredito que a Regionalização vai ajudar a desenvolver as regiões – e, portanto, o país.

Pelo que concluo dizendo isto: Dr. Marques Mendes, as suas prioridades são o crescimento económico, a competitividade, o combate ao desemprego e as condições para que Portugal cresça? De acordo! Traga então para o debate público a Regionalização, que é uma preciosa ajuda para lá chegar. A Regionalização insere-se nessas suas prioridades. A Regionalização é uma das soluções para essas prioridades. A Regionalização é urgente.

Comments:
Não é nada...
 
Caro MigDeF,

No mesmo sentido deste seu post

http://regioes.blogspot.com/2006/02/resposta-marques-mendes.html

Saudações Regionalistas,
AAF
 
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