09 janeiro 2006

Lisboa versus Portogaia?

«O deputado eleito pelo círculo do Porto Paulo Rangel e o lisboeta e director do Público José Manuel Fernandes responderam, anteontem à noite, à "provocação" corporizada na pergunta "Centralismo: Lisboa, rival ou aliada?", que serviu de mote à quarta conferência do ciclo Olhares Cruzados sobre o Porto, organizada pelo Público e pela Universidade Católica, com moderação a cargo de Rui Moreira.

Contra eventuais expectativas de uma luta de argumentos em volta do recorrente "centralismo lisboeta", as ideias avançadas pelos dois oradores "encaixaram-se" e complementaram-se. Paulo Rangel defendeu que "o Porto não pode, não deve nem tem que contar com Lisboa" para o que quer que seja, devendo pensar-se por si só como cidade no contexto ibérico e europeu; José Manuel Fernandes centrou o seu discurso nos malefícios do "paquiderme" que é a administração pública, que a todos prejudica e para cujo emagrecimento e agilização é possível e desejável a "aliança" entre todos, designadamente entre Lisboa e Porto.

Rangel avançou com uma ideia que não é nova, mas que retomou com redobrado vigor: a fusão dos concelhos do Porto e Gaia, único "projecto mobilizador" para afirmação da cidade que poderia, inclusive, ir um pouco mais longe, congregando também Matosinhos. Seria a forma de ganhar "massa crítica" e erguer um pólo urbano poderoso, com mais de meio milhão de habitantes e 210 quilómetros quadrados, "uma construção positiva que não era feita contra ninguém" e que teria inúmeras vantagens, desde a redução de custos administrativos até à gestão integrada de dois centros urbanos, já praticamente unidos.

Até chegar à proposta de fusão, Rangel começou por desvalorizar o interesse da guerra contra o "centralismo", porque este "sempre existiu e vai perdurar", e cujas manifestações mais recentes são os projectos da Ota e do TGV, igualmente questionados pelo director do Público.

A aposta de Rangel é a da afirmação de uma cidade do Porto alargada e reforçada, inserida no que chamou "Iberolux", definido como um conjunto de cidades ibéricas em regime de cooperação integrada e respeitador das identidades e das diferenças de cada uma das urbes. Um modelo que implicaria uma solução multipolar, feito de uma rede de cidades médias inspirada no modelo holandês, com valências diversas e complementares e, obviamente, contrário ao centralismo que privilegia Lisboa, com "todo o país estruturado e infra-estruturado em volta da capital", à maneira da Grécia antiga "ou de João Cravinho".

José Manuel Fernandes começou por desvalorizar a muito criticada, a norte, concentração de investimentos na capital e optou por desancar no "inimigo comum" de Lisboa, do Porto e de toda a gente, e obstáculo principal ao bom desempenho da economia portuguesa: a "paquidérmica" administração pública portuguesa. "Um monstro que cresce e multiplica-se" e que tem afloramentos absurdamente irracionais, como é, entre outros, o caso de a maioria dos funcionários do Ministério da Agricultura se concentrar em Lisboa. [...] Emagrecer o "paquiderme" e pô-lo a andar é, portanto, o grande desafio do país, um desiderato consensual entre oradores e assistência.»

Carlos Romero, Público, 7-1-2006

Comments:
Viva,

No meio de tanta discordãncia todos concordam que o "paquiderme" está gordo ou, pelo menos, anda muito devagar.

O Estado tem que ser mais ágil e tem que ter menos burocracias sem negligenciar o seu importante papel! Não quero um Estado menor porque o seu papel na regulação, na redistribuição, na protecção social, nos serviços públicos (que inclui a educação e a saúde universal assim como a justiça) não devem ser postos em causa. Por isso SIM a que o Estado use melhor os seus recursos e NÃO à concorrência e fraude fiscal que tem levado as empresas a contribuir cada vez menos para o papel do Estado.

Para que o Estado seja mais ágil precisa de regras simples e de descentralização! Mas uma descentralização apenas operacional, não nas leis e regras. Quanto ao pólo urbano aqui no Porto acho que é impossível ser feito no actual quadro político uma vez que os políticos no norte continuam a medir o seu sucesso pela quantidade de investimentos que conseguem aprovar, com ou sem conhecimento da Administração Central. Não há, actualmente, a menor sombra de estratégia entre os autarcas do Norte.

Abraço,
 
Enviar um comentário



<< Home

This page is powered by Blogger. Isn't yours?