02 dezembro 2005

O Porto e as elites...

A questão das elites do Porto e a sua importância nos processos de decisão voltou à ordem do dia. Esta é, aliás, uma matéria recorrente, por vezes exacerbada e, sobretudo, apontada como a principal razão para o definhamento que a região conhece, nomeadamente na última década. Num artigo notável, onde reproduz uma intervenção proferida, recentemente, na Universidade Católica, o sociólogo António Barreto coloca, do meu ponto de vista, o "dedo na ferida". Ou seja, é inquestionável que há elites nesta região temos a maior Universidade do país, uma das melhores escolas de Arquitectura do Mundo, somos pioneiros em áreas relacionadas com as ciências da vida e da medicina, temos um tecido empresarial (agora algo fragilizado com a crise económica que atravessamos) que é responsável por uma parte significativa das nossas exportações, na cultura somos o alfobre de inúmeros talentos de dimensão nacional e internacional, etc., etc..

Então, porquê tanta discussão?

Já anteriormente referi, nesta coluna, que a quem vive em regiões periféricas não basta ser dos melhores. Para compensar o facto de estar longe, pelo menos fisicamente, do poder, temos de acrescentar algo mais. E é exactamente sobre esse "algo mais" que António Barreto se pronuncia de forma lapidar.

De acordo com aquele sociólogo, o elemento de diferenciação deve estar intimamente relacionado com o efeito demonstração. Significa isto que a nossa afirmação passa, sobretudo, por "fazer" e fazer de forma diferente. Exemplificando, o Porto tem de mostrar ao país que é capaz de gerir com maior eficácia os recursos e, desse modo, obter melhores resultados. Não faltam áreas onde poderemos demonstrar as nossas competências ao nível da gestão política, sermos capazes de inovar em termos de parcerias públicas e público-privadas em áreas tão distintas como a saúde, a educação, a segurança, o ambiente, etc.; ao nível do tecido empresarial, conseguirmos apostar em diminuir os famosos "custos de contexto, sobretudo ao nível burocrático, e tornarmo-nos competitivos na atracção de empresas tecnológicas, nacionais e multinacionais, indutoras de um crescimento industrial assente no novo paradigma da sociedade do conhecimento; ao nível cultural, aproveitarmos de forma muito mais eficaz os recursos físicos, humanos e infra-estruturais tendo em vista atrairmos novos públicos para esta região, rendibilizando os enormes investimentos realizados nos últimos anos.

Ou seja, sendo certo que é necessário reflectir, hoje, bem mais importante, é fazer.

Agostinho Branquinho in Jornal de Notícias - 02/12/2005

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