15 dezembro 2005

Norte em decadência

Na passada 2ª feira fui à Universidade Católica do Porto ouvir José Roquette e António Murta falarem sobre a perda de pujança económica do Norte, em geral, e do Porto, em particular.

Foi muitíssimo interessante.

Julgo que a maior parte de nós conhece José Roquette, quanto mais não seja do tempo em que foi presidente do Sporting (altura em que introduziu uma gestão mais profissional na instituição). O Eng. António Murta é menos conhecido: é um engenheiro informático que criou uma empresa de software que compete nos mercados internacionais com vários gigantes deste sector com enorme concorrência - e fá-lo com grande êxito. Para terem uma ideia, tem cerca de 300 colaboradores, dos quais 80% são engenheiros informáticos!

O que mais me agradou nas intervenções foi o facto de não atirarem as responsabilidades para o lado: os políticos, o sistema, as leis ou os outros culpados do costume. No fundo, o que ambos disseram às gentes do Norte foi: mexam-se! Claro que esses culpados do costume podem ter responsabilidades, mas a primeira dessas responsabilidades cabe a cada um de nós. Foram particularmente duros para com os empresários que se recusam a ver as mudanças decorrentes da globalização, que continuam a restringir-se aos sectores tradicionais que já não conseguem ter grande valor acrescentado, que continuam a desperdiçar os recursos humanos qualificados para novos sectores de negócio.

José Roquette começou por referir que existem elites no Norte e que estas têm poder... se quiserem. Isto é, se se organizarem. Disse-nos que em Lisboa as elites se organizam bastante mais e, consequentemente, conseguem lutar melhor pelos seus objectivos.
Alertou para o facto do Porto já não ser visto como capital do Norte pelas outras cidades da região, porque cada vez mais as pessoas de Braga ou Vila Real vão resolver os seus problemas directamente a Lisboa. Reiterou que a sociedade civil tem de se organizar e de ser exigente com os políticos e consigo própria.

António Murta avisou que ia ser politicamente incorrecto - e cumpriu. Disse que já não há paciência para o discurso contra o centralismo. Mesmo que ele ainda exista, não pode servir de desculpa para tudo.

Sublinhou várias vezes que é preciso desinstalarmo-nos (recordando Gil). A Europa (incluindo já Portugal) está gorda, anafada e instalada. Há que operar-se uma desinstalação, há que não esperar demasiado dos poderes públicos e agir por si próprio, com iniciativa e estratégia.
Alertou para os perigos da economia informal e, sobretudo, de ela continuar a ser vista como sinal de inteligência (chico-espertismo).

E em termos económicos falou na necessidade de apostarmos em nichos de mercado de alto valor acrescentado, como os das novas tecnologias, biotech, nanotech, etc.

Valeu a pena ver que ainda há quem acredite nas nossas possibilidades. Eu subscrevo!

Comments:
Felizmente, a chama está bem viva! Há muitos que há muito alertam para os verdadeiros motivos da crise que vivemos e apontam soluções, outras vias e uma nova cultura de cidadania!
 
Enviar um comentário



<< Home

This page is powered by Blogger. Isn't yours?